Notícia atualizada em 18/06/2023
Aqui, quem escreve é uma pessoa sem ascendência japonesa, criada no chucrutes, nome e sobrenome francês, descendente de europeus e que chamava o avô de “nono”, a avó de “oma” e o pai de “papá” com tripla nacionalidade. Então, muitos de vocês talvez achem que estou me metendo onde não caibo, ou (espero) entendam minha paixão pela terra do sol nascente. E sim, esse nome faz jus, tanto no sol nascente ou poente, não há lugar mais belo para apreciar essa magia da natureza, pois vi e senti com meus olhos e corpo.
A imigração do Japão para o Brasil começou em 1908. Por que o Brasil? Lá aparece os EUA novamente. Quando a Guerra Civil reivindicou a emancipação dos escravos. Essa onda de emancipação dos escravos chegou a América do Sul.
Nessa época os grandes fazendeiros do Brasil eram “sustentados” por trabalho escravo da África. Após a abolição, imigrantes de vários lugares do mundo começaram a chegar no Brasil. Mas como começou a história da imigração japonesa no Brasil?
A história dos nikkeis começa no Brasil, quando 1908 os imigrantes do navio Kasato Maru desembarcaram no porto de Santos. Para quem for a São Paulo, indico que conheçam o museu da imigração e o museu da imigração japonesa no Bunkyô no bairro da Liberdade.
A escassez de trabalhadores nas lavouras de café devido à abolição da escravatura no Brasil, e com poucos imigrantes europeus, mas com a diminuição de imigrantes europeus, o governo do estado de São Paulo decidiu “aceitar” os japoneses. Usei a palavra aceitar, pois não foi algo tão honesto ao povo japonês, que veio ao Brasil em busca de conseguir dinheiro para ajudar seus familiares no Japão.
Uma boa minissérie para entender melhor essa transição que o povo japonês passou, é Haru e Natsu: as cartas que não chegaram. Para se ter uma pequena ideia do que os primeiros imigrantes que chegaram passaram, pense em uma pessoa que não conhece o idioma, desconhece a letras usadas (romanji) e principalmente o clima e as doenças de um país tropical. É muito triste saber, que muitas famílias chegaram com seus pertences pessoais e precisaram trocar por comida. Que as dívidas com os donos dos cafezais eram abusivas. Que muitos morreram por falta de cuidados médicos. É sobre as cartas que nunca chegaram.
As cartas que as irmãs escreviam eram em katakana (um alfabeto criado para facilitar a leitura dos caracteres chineses), e uma curiosidade foi saber que não era um alfabeto somente para línguas estrangeiras, como eu havia erroneamente aprendido. Atualmente é mais utilizado para os nomes e palavras estrangeiras.
Uma imagem no museu do Bunkyô, de imigrantes que vieram enganados pela propaganda que o governo fez, porém não estava de todo errado, pois é bem sabido que o Brasil tem terras férteis e oportunidades para quem trabalhar duro. Mas não precisava ter sido tão duro, não acham?
A falta de conhecimentos dos brasileiros que receberam os primeiros imigrantes não entendia sua cultura, religião e língua. Então eram grande o preconceito, o que culminou com que, os “Nikkei “criassem comunidades exclusivas assim como os casamentos eram somente entre eles, o famoso (omyai) ou casamento arranjado, Outra coisa interessante, que nessa época, muitos casamentos arranjados em especial para os homens, era que, a foto enviada para as futuras noivas de nada se parecia com a realidade que encontraram aqui no Brasil, pois a grande maioria trabalhava na terra e estavam queimados de sol, mal cuidados e em situações muitas vezes precárias.
O termo “Nikkeijin”, é um conceito que foi criado após a guerra, quando a segunda e terceira gerações e seus descendentes se enraizaram fora do Japão. Os imigrantes japoneses antes da guerra, imigraram com sua identidade como japoneses. O que dificultou ainda mais sua sociabilidade com os outros imigrantes. Porém, em revés, são um dos poucos povos imigrantes que ainda mantêm sua cultura e raízes.
Mais história. Em 1918, o governo japonês estabeleceu uma empresa monopolista de e pagou as despesas de viagem só de ida para os imigrantes. Além disso, em 1927, foi promulgada uma lei chamada Lei da Associação de Emigração Ultramarina, e enormes locais de imigração japonesa foram criados um após o outro principalmente no estado de São Paulo, criando a maior comunidade nikkei do mundo até os dias de hoje.
Quanto ao título: entretanto, mesmo se você pesquisar em livros, dicionários ou enciclopédias históricas japonesas atuais, não conseguirá encontrar itens relacionados à história da imigração. Um dos poucos lugares que se tem algo é em Kobe, mas também muito pouco mesmo. A meu ver, somente os nikkeis sabem a história verdadeira que passaram. Uma dessas testemunhas é o Mizuno Saburo san, que me contou sobre a vida de seu pai, desde a entrada no Kasato Maru, de quando Ryu Mizuno (pai da imigração japonesa no brasil) sofreu uma tentativa de homicídio dentro do navio, de sua chegada, sonhos, implantação de tecnologias agronômicas, da exportação do café para o Japão como a primeira cafeteria aberta no Japão, da comunidade utópica na região das Mercês em Curitiba, aonde os imigrantes que deixavam as fazendas de café em busca de uma vida mais digna, dando casa, apoio financeiro e mais tarde liberdade de seguir seus sonhos. É muita história, e hoje eu queria somente prestar essa homenagem ao povo japonês e seus descendentes, que fizeram um trabalho importantíssimo para o Brasil, na agronomia, moda, tecnologia, cerâmica, artes marciais e esportivas, cultural e artística. E claro, a enorme contribuição da cultura alimentar com suas cores, sabores, aromas e claro, umami.
Imagens: imagem da Minisséria Haru e Natsu , acervo pessoal de Mizuno Ryu, (Última imagem de Ryu Mizuno no Brasil), acervo pessoal do museu da imigração japonesa.
Michele Dupont, conhecida como ramen girl, viveu alguns anos o Japão trabalhando somente com japoneses, onde teve imersão total a cultura e alimentação local, e se apaixonou por esse prato. Ao voltar ao Brasil, sentiu a necessidade de divulgar a culinária japonesa fora do circuito sushi sashimi, em especial a cozinha quente, os macarrões japoneses, carnes, gyudon, donburi e as comidas de izakaya que são os gastrobares ou botecos japoneses. Após concluir a faculdade de gastronomia, trabalhou como chef de cozinha em alguns restaurantes em Curitiba, atualmente ministra cursos de culinária japonesa em São Paulo e faz consultorias gastronômicas. Também, estuda pós-graduação em História da Alimentação. Escreveu o primeiro livro nacional sobre ramen, “Ramen receitas para Estrangeiros”, com receitas e algumas histórias de sua vida no Japão. De forma simples e de coração, com os olhos de uma ocidental, trabalhou as receitas com insumos que podemos encontrar com facilidade no Brasil. Também foi convidada pela Jetro São Paulo para apresentar o programa “Sabor do Japão” para a rede Bandeirantes no canal “Sabor e Arte da Band tv”, sobre macarrões japoneses e karê, em cápsulas passadas entre os programas, uma forma da Jetro divulgar a cultura alimentar japonesa. Participou de live e podcast com a Quickly Travel, Cônsul Takagi Masahiro (na época cônsul do Japão na região Sul), Live sobre macarrões japonês pela Jetro e podcast pelo Paladar Distinto. A convite da presidente do Comissão de Gastronomia do Bunkyo, faz parte da equipe voluntária. Recentemente recebeu um convite inusitado, apresentar pratos japoneses do dia a dia dos japoneses, para o público brasileiro, no programa da rede aberta Band TV com o Chef Edu Guedes, onde ensinou karaage, tonkatsu e yakissoba, assim mostrando outro lado da culinária japonesa, mais simples e acessível a todos. Atua na área como consultora gastronômica e professora de culinária japonesa.
Atualmente trabalha em São Paulo, com workshop, cursos e divulgação da gastronomia japonesa e restaurantes, voltada a todos os públicos, em especial ao público brasileiro para melhor compreensão da cultura alimentar japonesa, deixando de fácil acesso e entendimento sobre os sabores característicos do Japão, baseado em sua experiência de vida com imersão a cultura.
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