É um fato que para se destacar no ramo da gastronomia hoje em dia é preciso ser mais do
que somente um bom cozinheiro/a
Assim como amigos de diversas outras profissões, eu me sinto constantemente bombardeado com a pressão de criar conteúdo para redes sociais e despertar meu influencer interior com máxima urgência. Será esse o futuro? Que vença o melhor influencer/marketeiro? Espero que não. Acredito que os lugares de destaque serão dos que mais se diversificam e conseguem passar a frente seu conhecimento. Em um mercado de trabalho tão competitivo como a gastronomia fica difícil decidir quais habilidades adicionar ao repertório e dentre elas quais devemos focar. Uma das disciplinas ofertadas em cursos online e presenciais sempre me chamou a atenção, não por estar presente, mas pela superficialidade com a qual ela é abordada. Esta disciplina é o Design e através desse texto eu gostaria de expressar o quão valioso ele pode ser para um chef/empreendedor.
Para os que não me conhecem gostaria de começar contando um pouco da minha trajetória. Após cozinhar em restaurantes eu me encontrei estudando Artes Visuais e Design na Universidade Federal de Pelotas onde me formei. Durante minha passagem pelas Artes e Design sempre me via voltando ao passado nas cozinhas e procurava um ponto em comum onde tais disciplinas convergem. Ao final do curso descobri que sim, tais disciplinas se relacionam e talvez entender isso seja um grande diferencial para estar à frente na gastronomia. Ao transitar entre os dois universos notei o quanto a interação entre Gastronomia e Design passa despercebida tanto por designers quanto por cozinheiros. Quando falo sobre Design na Gastronomia logo pensam na estética de um prato e visualizam um chef desenhando o empratamento no papel assim como faz um arquiteto traçando os primeiros esboços de uma construção. Sim isso é, de forma rasa, o Design sendo aplicado na gastronomia e tal superficialidade se reflete tanto nos cursos online quanto nas grades curriculares das escolas de gastronomia. Design vai muito além de manicurizar e fazer as coisas serem mais bonitinhas; é sobre otimizar performance, gerar novos formatos, repensar os que já existem, é sobre criar. Por isso sempre me decepcionou ver o termo Design sendo relacionado a gastronomia somente em aulas de empratamento e apresentação/styling. Mas afinal como eles se relacionam de forma significante? Uma prova do sucesso de tal interação é um dos Chefs mais revolucionários do século, Ferran Adria. Ele incorporou elementos chave do Design na sua cozinha tais como registrar meticulosamente seu processo e a criação de sua própria linguagem num fluxograma. Aliado a engenheiros e designers, os irmãos Adria, foram além da mistura de sabores, cheiros e texturas para criar novas ferramentas, novos processos criativos, uma nova forma de apreciar a gastronomia aproximando-a da Arte.
O segmento do Design aplicado à gastronomia mais conhecido é o Food Design que vejo ser mencionado muito superficialmente em aulas de empratamento. O Food Design antes de tudo é uma linguagem na qual se pensa a comida não só como um prato em um restaurante, mas como um elemento da sociedade. Mais ligado a indústria, o Food Design procura criar produtos alimentícios levando em conta seu impacto socioambiental e incorporação de tecnologias disponíveis. De caráter bastante estratégico, o Food Design procura otimizar não só produtos, mas também serviços, sistemas de distribuição/produção, aquisição, preservação e transporte, preparação, apresentação, consumo e eliminação de alimentos. O Food Design é muito útil tanto para Designers interessados em trabalhar na indústria de alimentos quanto para cozinheiros à procura de emprego fora dos restaurantes.
Outra disciplina do Design relacionada a gastronomia é o Eating Design. Menos conhecido porém não menos interessante, ele se refere a todo uso de design que influencia a experiência gastronômica. Enquanto o Food Design é mais voltado a criação de produtos e serviços, Eating Design pode estar presente em todo aspecto da gastronomia. Além de mais abrangente, ele é muito mais útil para quem quer empreender. O principal exemplo que gosto de trazer é a criação de uma identidade visual de um restaurante, porque ao criar uma marca interessante e suas aplicações irá afetar diretamente na experiência do comer assim como no design do espaço, decoração, som, ferramentas, mobiliário, montagem da cozinha, uniformes, brindes etc.
Pessoas são multifacetadas com diversas habilidades e interesses, portanto é um erro um cozinheiro/a se considerar capaz de só cozinhar. Um cozinheiro que deseja empreender precisa buscar dentro de si todos seus recursos, habilidades e criatividade que puder e assim talvez conquistar seu espaço no qual ele/a irá se expressar através da gastronomia. Portanto, minha dica para os destemidos no ramo da restauração é para que adicionem o design ao seu repertório pois ele ajuda a aplicar criatividade, abrir novos caminhos e registrar o conhecimento para ser passado adiante.

Cozinheiro, Artista e Designer Frustrado tentando se expressar através de palavras e gastronomia.
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